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Autismo e a prática do ensino da matemática com recursos digitais: entrevista com a especialista Ana Rita Bruni



A prática no ensino da matemática sempre traz os questionamentos como conceber a aprendizagem eficaz em todos os níveis da educação, mas os alunos com transtorno do espectro do autismo (TEA) muitas vezes encontram desafios únicos no que diz respeito à disciplina.

A primeira e grande dificuldade entre os educadores está sobre o TEA e o amplo espectro e heterogeneidade de comportamentos e processos neuropsicológicos manifestados pelo indivíduo autista. Além da diversidade de sintomas, o autismo também pode se manifestar em diferentes níveis cognitivos e peculiaridades.

O blog MatemaTDIC entrevistou a Profª Ana Rita Bruni, Pedagoga, especialista TEA, Especialista em Psicologia Educacional, Mestre em Educação por Projetos Especiais e Construtivismo pela Universidade Autônoma de Madrid, sócia proprietária da Clínica de Psicopedagogia Passo Aprendizagem em São Paulo, e uma das autoras do livro “Saúde Mental na Escola”. A especialista trouxe suas experiências sobre o TEA e a formalização do trabalho com aplicativos e matemática.

Profª Ana Rita Bruni -  Arquivo Pessoal

A priori Ana Rita explica que “o autismo é um transtorno psiquiátrico do neuro desenvolvimento que não tem uma causa específica, possui múltiplas possibilidades de ocorrer no indivíduo. Não há exame específico para detecção, não há sequência genética que se possa prever dentro da família, não há tratamento por remédios por não se tratar de uma doença, você trata as manifestações comportamentais ou biológicas. O autismo é um espectro, cada autista tem características diferentes, podendo ser classificados em três níveis: leve, moderado e grave”.

Para as crianças do espectro autista, alguns dos conceitos mais abstratos da matemática podem representar dificuldades extremas, para este público não há aplicativos específicos, na maioria das vezes são utilizados os app disponíveis para a prática educacional em geral.

Ana Rita cita sobre esta situação, onde em seus atendimentos utiliza aplicativos que já existem e os adapta para o atendimento aos autistas, trabalhando conforme o perfil de cada paciente e analisando características e peculiaridades: se o autista é verbal ou não verbal, se é alfabetizado ou não, se reconhece objetos ou se este consegue apontar com o dedo, entre tantas outras questões.

Nesta situação, a especialista Ana Rita em seus atendimentos na Clínica de Psicopedagogia Passo Aprendizagem, utiliza aplicativos que possuem como recursos básicos base de cores e formas, possibilidades de emparelhamentos, comparação, para que os autistas aprendam igualdade, diferença, quantidade e grandezas, gradativamente de acordo com as possibilidades individuais. Os aplicativos de lousa verde auxiliam na demonstração, onde se pode escrever com o dedo no smartphone ou tablet as propostas de aprendizagem para ampliar a interação com o paciente e buscar assim, facilitar a aprendizagem.

Outro aplicativo utilizado pela especialista Ana Rita é o Math Bubbles para pacientes com mais recursos,  app que trabalha várias possibilidades de cálculos com o jogo, sendo muito aceito por conta da gamificação. O app Timer, um outro exemplo é utilizado para ensinar noções de tempo, bem como marcar início e fim das atividades, o que auxilia na previsibilidade, por conta do aluno.

Math Bubbles – Apps no Google Play
Tela Math Bubbles

Ana Rita salienta que os autistas têm grande interesse por cores e elementos gráficos e tanto os aplicativos quanto os recursos tecnológicos são excelentes para despertar o interesse pela matemática pois captam a atenção, sendo motivador para ampliar as possibilidades de ensino.

Aprofundando mais sobre o TEA especificamente, Ana Rita Bruni explana que mesmo no grau leve, o autismo impacta na vida do indivíduo e que, dentro de cada nível (leve, moderado, severo), existem várias subdivisões, pois há aqueles que fazem contato visual, os que possuem questões de cognição relevantes, podem apresentar o comprometimento intelectual. 

Porém, há também os indivíduos que são de alto funcionamento e se destacam por altas habilidades específicas, chamadas de “ilhas de excelência” onde Ana Rita explana esta situação:

 

Em situações dos autistas moderados e graves, há questões de cognição importantes podendo haver o comprometimento intelectual. Ser verbal ou não verbal é um dos critérios que diferencia o autismo leve do moderado, com grande impacto na vida do indivíduo. Porém tem em outra ponta aqueles que são muito inteligentes, se destacam em determinadas áreas de conhecimento ou “ilhas de excelência”, onde acabam tendo um conhecimento muito grande em um determinado assunto, o que não implica em um saber aprofundado, e muitas vezes não é realmente um saber aprofundado, e sim mais uma repetição, sendo comum apresentar uma facilidade em reproduzir o que leram ou ouviram. Como exemplo: capacidade de citar sobre todos os planetas, as distâncias, densidades e temperaturas...só que não é necessariamente um conhecimento sólido e consistente, é uma reprodução oral, o determinante está no momento que você traz uma outra proposta de aprendizagem fora do contexto planeta (como citado no exemplo) e este indivíduo retoma para o assunto (planeta) o qual é de seu interesse, se sentido seguro somente ao tratar assunto que domina, mostrando rigidez e inflexibilidade, inclusive em suas rotinas (sic).

 

Por fim, a especialista Ana Rita Bruni complementa que basicamente os autistas possuem dificuldades na comunicação, compreensão e forma de como veem o mundo, além das questões comportamentais, interesses restritos e até questões sensoriais.

 

Sobre Ana Rita Bruni

 

Pedagoga, especialista em Psicopedagogia, pós graduada em Administração Escolar , Pós graduada em Didática para o  Ensino Superior, Pós graduada em TEA,  Especialista em Psicologia Educacional , Mestrado em Educação por Projetos Especiais e Construtivismo pela Universidade Autônoma de Madrid, em parceria com a FLACSO, professora do Ensino Fundamental por 24 anos, consultora escolar em projetos individuais para crianças com necessidades especiais, Colaboradora do Ambulatório de Transtornos do Espectro do Autismo Marcos Mercadante ( TEAMM), da Unidade de Psiquiatria da Infância e da Adolescência - Escola Paulista de Medicina/UNIFESP, por 8 anos , Membro do Conselho Consultivo da ONG Autismo e Realidade, Coordenadora do Núcleo de Inclusão da Fecap e da Escola Morumbi Moema , Docente nos cursos de Pós Graduação em Psicopedagogia, MBA em Gestão em Educação, Alfabetização e Letramento pela FMU, Sócia proprietária da Clínica de Psicopedagogia Passo Aprendizagem localizada no bairro de Pinheiros, São Paulo.